Manual de apoio à elaboração de projetos culturais

Um projeto tem como objetivo transformar idéias e aspirações em ações concretas que possam aproveitar oportunidades, solucionar problemas, atender a necessidades ou satisfazer desejos.


Para isso, deve apresentar um conjunto de atividades programadas para acontecer num determinado período de tempo, com objetivos precisos, estratégias consistentes e indicadores coerentes para avaliar os resultados alcançados.

A realização de um espetáculo musical, a montagem de uma peça de teatro, a publicação de um livro ou a gravação de um filme são projetos culturais típicos. Porém, não são apenas as atividades ligadas à produção que definem um projeto cultural. Atividades que visam garantir o acesso e ampliar as práticas culturais da população também podem ser consideradas projetos em si, ou podem complementar projetos de produção. Nestes casos, por sua natureza, configuram-se como projetos de democratização cultural.
Etapas para a elaboração de um projeto cultural

O ponto de partida para elaborar um projeto de democratização cultural é a identificação de uma demanda ou oportunidade. A partir delas é que se estrutura o plano de ação. Esse processo pode ser facilitado e obter maior sucesso se for dividido em etapas. Cada etapa deve responder a questões específicas.

Abaixo segue um roteiro que pode ajudá-lo na elaboração de um projeto, com exemplos voltados à democratização cultural.

1. Título

Todo projeto deve ter um título que seja capaz de dar uma idéia concisa e clara da sua proposta. Um bom título orienta a construção do projeto. Porém, ele pode ser atualizado quando o projeto for concluído para que incorpore as mudanças e aprimoramentos que possam ter sido realizados ao longo do processo.

2. Descrição e Justificativa

Geralmente, inicia-se um projeto respondendo à seguinte questão:

Por que o projeto deve ser implementado?

Esse item deve esclarecer que o projeto responde a uma determinada demanda percebida e identificada pela pessoa, comunidade ou entidade que o empreende.

A sugestão é apresentar um diagnóstico que reúna elementos capazes de enfatizar a relevância dessa demanda, tais como: dados sobre a região e a população atendida, suas necessidades sociais, a acessibilidade a atividades culturais, os antecedentes e outros esforços já implementados.

As perguntas abaixo também podem ajudar a elaborar essa etapa:
  • Qual a importância dessa demanda/questão para a comunidade?
  • Que benefícios serão alcançados pelo público-alvo do projeto?
Em um projeto de democratização cultural, a demanda geralmente está na baixa incidência de práticas culturais entre a população, o que se mede pela escassez de equipamentos (teatros, cinemas, museus etc.), pela baixa acessibilidade a eles, pela oferta restrita de opções culturais na região, ou, simplesmente, pela falta de conhecimento e informação a respeito das opções ali presentes.


3. Objetivos

Ao se especificar o objetivo de um projeto, deve-se buscar respostas para as questões: para que? e para quem?

Os objetivos devem ser formulados visando especificar aquilo que se quer atingir a partir da realização do projeto, apresentando soluções para uma demanda ou respondendo a uma oportunidade.

Os objetivos podem ser classificados em dois níveis:
  • Objetivo geral: corresponde ao produto final pretendido pelo projeto.
    Deve expressar o que se quer alcançar no longo prazo, ultrapassando inclusive o tempo de duração do projeto. O projeto não pode ser visto como fim em si mesmo, mas como um meio para alcançar um fim maior.
  • Objetivos específicos: correspondem às ações que se propõe executar
    e aos resultados esperados até o final do projeto.
Um projeto de democratização cultural tem por objetivo, no longo prazo, a formação de indivíduos - crianças, jovens e/ou adultos - mais aptos para a vida e para a construção de uma nova realidade. Seus objetivos específicos se concentram na realização das atividades propostas como meio para essa finalidade maior. Alguns exemplos são a realização de uma oficina de artes, a viabilização do acesso de uma determinada população a um espetáculo de dança, a capacitação de professores para atuarem como mediadores, entre muitos outros.

4. Metas

As metas detalham os objetivos específicos do projeto. Nesse sentido, devem ser concretas, expressando quantidades e qualidades que permitam avaliar, posteriormente, a efetividade do projeto.

Uma meta dimensionada de maneira coerente ajuda a definir os indicadores que permitirão, ao final do projeto, evidenciar o alcance da atuação. Em um projeto de democratização cultural, as metas podem definir, por exemplo, qual setor da população será atendido, quantas pessoas serão beneficiadas, por quanto tempo cada pessoa estará envolvida nas atividades, com que grau de participação, entre outros.

5. Metodologia

A metodologia de um projeto deve responder basicamente à seguinte questão:

Como o projeto vai alcançar seus objetivos? Nesse sentido, deve descrever as estratégias e técnicas que serão empregadas.

Em projetos de democratização cultural, várias estratégias podem ser adotadas, dentre elas:
  • Exibição, circulação, difusão e distribuição cultural: oferecer, facilitar e qualificar a fruição artística pelo público beneficiado.
  • Práticas culturais e sensibilização/educação artística: vivenciar o fazer artístico, seja por meio de oficinas, cursos ou outras atividades de caráter educativo.
  • Formação artística e capacitação de mediadores: formação e/ou profissionalização de futuros artistas, mediadores ou arte-educadores.
Além disso, a metodologia pode descrever de que maneira será a interação com o público beneficiado e como será a gestão do projeto.


6. Cronograma

O desenvolvimento do cronograma deve responder à pergunta: quando?
Todo projeto possui um prazo determinado para acontecer e apresenta algumas ações que se alternam ou se coordenam nesse período. A elaboração do cronograma visa organizar essas atividades em uma seqüência lógica e coerente que permita alcançar os resultados no prazo determinado.

7. Orçamento

A elaboração de um orçamento deve permitir a previsão e o controle dos gastos que o projeto terá. Nessa perspectiva, responde à questão: quanto?

O orçamento deve servir como um resumo financeiro do projeto no qual se indica quanto será gasto para sua realização e como. É uma ferramenta importante na gestão do projeto para o acompanhamento das despesas previstas e realizadas.

Geralmente, agrupam-se os custos em blocos de despesas: material de consumo; administração; equipe; serviços de terceiros; cachês; aluguel de espaço e equipamentos; alimentação e hospedagem; transporte; divulgação; instalações e infra-estrutura, entre outros. Isso facilita a organização e o controle dos gastos.

8. Mensuração de resultados

Um projeto coerente é aquele que estabelece indicadores para medir seus resultados. Os indicadores podem ser:
  • Quantitativos: consolidam números para avaliar o cumprimento das metas estabelecidas, a exemplo do número de comunidades atendidas, atividades realizadas, ou público dos espetáculos. Podem ser obtidos por meio da contabilização do número de pessoas beneficiadas, por exemplo.
  • Qualitativos: trazem uma análise em profundidade sobre algum aspecto, como a metodologia empregada, os conteúdos de uma atividade, entre outros. Tais dados podem ser obtidos por meio de pesquisas de opinião, entrevistas, questionários de avaliação etc.
Independentemente de serem qualitativos ou quantitativos, os indicadores devem sinalizar se as metas foram atingidas, além de permitir avaliar se a estratégia empregada foi bem sucedida, sinalizando quais pontos podem ser aprimorados.

Projetos sustentáveis

Para que um projeto seja sustentável, ou seja, aconteça da forma como foi planejado e atinja seus objetivos e metas, é preciso atentar aos seguintes aspectos:
  • Posicionamento: deve-se definir, com uma proposta clara, qual o foco de atuação do projeto. Um projeto com uma missão bem definida evita, desde o planejamento, crises provocadas pela dispersão de esforços.
  • Atuação: deve-se buscar sempre uma atuação de qualidade. Todos os detalhes devem ser planejados para que o projeto ocorra da melhor forma possível, sem imprevistos ou falhas que possam gerar uma má experiência do público participante.
  • Comunicação: o projeto deve ser conhecido pelos públicos que se quer atingir. De nada adianta uma ação exemplar se o público não fica sabendo da sua realização.
  • Equipe: deve-se contar com um número suficiente de pessoas para a realização das atividades, com qualificação e remuneração adequadas. Além dos próprios protagonistas da ação, é necessário pensar quem serão os responsáveis pela produção, comunicação,
    controle financeiro e do cronograma etc.
  • Recursos: a sustentação econômica do projeto deve ser baseada no planejamento para a obtenção de recursos junto às diferentes fontes de recursos disponíveis. Discutiremos a seguir as fontes de financiamento existentes.
Captação de recursos

Segundo Rosana Kisil*, “recursos são todos os bens, insumos e serviços utilizados na realização das atividades do projeto. Equipamentos, suprimentos, salários da equipe, benefícios trabalhistas dos funcionários, viagens, consultores externos etc”.

Captar significa reunir todos os tipos de recursos necessários para viabilizar o projeto: verba, produtos, serviços, trabalhos voluntários, entre outros.

Referência:
6 KISIL, R. Elaboração de projetos e propostas para organizações da sociedade civil. São Paulo: Global, 2001.


Fontes de captação de recursos

Uma das maiores preocupações dos gestores de projetos culturais normalmente é sobre como e onde captar recursos. O primeiro passo é entender e identificar quais são as possíveis fontes de recursos disponíveis para projetos culturais. O ideal é combinar diversas fontes, evitando que seu projeto dependa de apenas uma delas. Segue aqui um descritivo das principais fontes a serem buscadas.

1. Governo

O investimento do poder público em cultura pode ser feito pela instância federal, estadual ou municipal. Cada uma delas tem mecanismos próprios de atuação.
  • A forma mais simples de o governo investir em cultura é quando ele mesmo abre um concurso ou edital para inscrição de projetos e premia aqueles que obtêm melhor avaliação com destinação direta de recursos. Nesses casos, o governo tem a chance de estabelecer, já no concurso, os critérios de avaliação que julga mais importantes e, assim, direcionar o investimento para o interesse público. Fique sempre atento a concursos e editais. Eles costumam ser divulgados nos grandes jornais, mas você também pode pesquisar no site do Ministério da Cultura e nos sites das secretarias de cultura do estado e do município onde você está.

  • Outra forma de investimento governamental bastante comum é a formação de convênios com organizações da sociedade civil. Isso acontece quando o poder público entende que alguma organização civil é capaz de exercer determinada função ou executar determinada ação de interesse coletivo. Então, ele repassa verba a essa organização para que ela realize o trabalho. Para formar um convênio, você precisa pertencer a uma organização e deve procurar os órgãos públicos do seu município, tais como a Secretaria de Cultura, a de Educação e o Conselho Tutelar.

  • A terceira forma de investimento público em cultura se dá por meio das leis de incentivo. Trata-se de uma legislação que permite a pessoas físicas e jurídicas repassar um percentual de seu imposto devido a projetos culturais que julguem interessantes. Assim, parte do que seria pago ao governo é destinado diretamente aos projetos, sem intermediação.

    A lei de incentivo de maior amplitude no País é a Lei Federal de Incentivo à Cultura ou Lei Rouanet (1991). Essa lei permite que as empresas financiem até 100% do valor dos projetos selecionados, com até 4% do imposto de renda devido à União. No entanto, a fim de garantir a qualidade dos projetos beneficiados, só podem receber esses recursos projetos previamente aprovados por uma comissão técnica instituída pelo Ministério da Cultura.

    Para isso, o primeiro passo é inscrevê-lo nos programas de incentivo disponíveis e obter autorização para captação (informe-se a respeito nos sites do Ministério da Cultura e das secretarias municipal e estadual de onde estiver localizado). O segundo passo é apresentar o projeto para pessoas físicas e jurídicas que possam repassar ao projeto parte do imposto devido.
2. IndivíduosUma fonte possível de captação de recursos são os próprios indivíduos. Segundo pesquisa realizada em 1999, 50% da população adulta no Brasil faz doações individuais a instituições e projetos que considera relevantes (21% doa dinheiro e 29% doa apenas bens, em sua maioria alimentos)*. Um outro estudo nos mostra que, no mundo, em média 14% da verba total de uma organização sem fins lucrativos provém de doações individuais**.

Assim, o contribuinte individual é um doador importante. Sua motivação está relacionada à missão do projeto, à causa que ele defende. Muitas pessoas doam apenas quando solicitadas; outras doam anualmente; há ainda quem doe heranças e patrimônios inteiros.

O importante, para conseguir doadores, é encontrar pessoas que se identifiquem com a causa do projeto e convencê-las de que se trata de um bom projeto. Valorize e agradeça cada doação, mostrando ao doador que ele é um importante parceiro nas ações. Divulgue metas e resultados, mostrando que o dinheiro foi bem aplicado e qual foi o retorno do investimento. Assim, ele terá motivação para investir novamente. E, por fim, peça para os investidores fiéis ajudarem a obter novos doadores. O testemunho deles vale muito.

Referências:
* LANDIM, L.; SCALON, M. C. Doações e trabalho voluntário no Brasil - uma pesquisa. Rio de Janeiro: Ed. 7 Letras, 2000.
** SALAMON, Lester e outros. Global Civil Society: dimensions of the nonprofit sector. Baltimore: Johns Hopkins Center for Civil Society Studies. 1997.


A captação com indivíduos também pode ser dar por meio de eventos e apresentações públicas em que as pessoas compram um ingresso para assistir a um espetáculo ou participar de uma festa promovida pelo projeto ou instituição. Nesse caso, lembre-se sempre que a democratização cultural está associada à gratuidade. Se for necessário cobrar ingressos, pratique preços acessíveis ao seu público.

3. Fundações e agências

Existem no mundo algumas organizações cujo objetivo é distribuir recursos para projetos e instituições que considerem importantes. Elas apóiam ações buscando gerar resultados e benefícios públicos. O financiamento é feito normalmente durante um período determinado (geralmente de um a três anos). Espera-se que, nesse período, a entidade ou projeto apoiado encontre outras formas de se manter, tornando-se auto-sustentável.

Existem três tipos de fundações: as de empresas, as de famílias e as de comunidades. Já as agências internacionais normalmente são responsáveis por destinar recursos de países mais desenvolvidos para aqueles em processo de desenvolvimento. Nesse caso, interessam especialmente as ONGs e grupos de interesse (tais como sindicatos internacionais ou associações) que destinam recursos a projetos comunitários menores em países em desenvolvimento. Normalmente, agências e fundações atuam em torno de uma causa específica e em uma região determinada. Antes de procurá-las, cabe descobrir se:
  • Há alinhamento entre essa causa e a missão do seu projeto
  • A região foco de atuação desta organização é a região onde o seu projeto ou instituição está localizado
  • A organização apenas realiza projetos próprios ou se também destina recursos a iniciativas de terceiros
4. Geração de renda própriaA geração de renda própria é também uma das formas comuns de obtenção de recursos. Ela pode ser implementada com a oferta de produtos e serviços oferecidos pela organização. Bons exemplos são a venda de camisetas e brindes do projeto, artesanato, comida ou, ainda, por meio de cursos e outros serviços que possam ser oferecidos. Convênios com Governo por meio dos quais a instituição ou ONG fornece um serviço que é contratado pelo poder público também são considerados uma forma de geração de renda própria.

A grande vantagem é a autonomia: com recursos próprios não é necessário depender de terceiros. O importante, nesse caso, é ter bons produtos e serviços que possam ser oferecidos. O risco é haver uma distorção na missão do projeto. Gerar renda própria não deve se tornar o objetivo principal do projeto, mas contribuir para que se atinjam os objetivos originais.

5. Parcerias e articulaçõesUma das fontes de captação mais simples e eficientes são as parcerias. Para realizar um projeto, não é preciso fazer tudo sozinho e nem criar soluções que já existem. Pode-se contatar pessoas e organizações que auxiliem nesse processo.

O primeiro passo é buscar parcerias nas localidades onde o projeto acontece. Identifique pessoas ou organizações que:
  • Tenham objetivos semelhantes aos do seu projeto
  • Tenham púbicos semelhantes aos do seu projeto
  • Ocupem espaços próximos ou similares aos do seu projeto
Procure essas pessoas. Discuta com elas os problemas que tem enfrentado e proponha ações conjuntas que beneficiem as duas partes. A palavra de ordem aqui é cooperação. Numa parceria, a idéia é que todas as partes saiam ganhando.

Um passo um pouco mais ambicioso é buscar organizações que desenvolvam grandes projetos na mesma área do seu, ainda que não atuem na sua região. Essa busca pode ser feita de várias maneiras: a partir de relacionamentos com outras pessoas (contatos com órgãos públicos e ONGs, por exemplo), participação em eventos importantes da sua área de atuação, busca em sites especializados, participação em fóruns na internet etc.

Tem sido comum as organizações se articularem em torno daquilo que se chama rede. Falamos em rede porque diferentes organizações se conectam em torno de objetivos comuns, entrelaçando-se. Essas articulações servem para trocar informações, compartilhar experiências e atuar na busca conjunta de soluções para problemas sociais de âmbito local, nacional ou global.

Com o desenvolvimento tecnológico e a possibilidade de comunicação via internet, as redes ganharam força. Aproveite a chance e os benefícios de se comunicar com pessoas que fazem a mesma coisa que você em qualquer lugar do País e do mundo!

6. Patrocínios empresariais

Outra fonte de captação bastante comum é o patrocínio empresarial. Muitas empresas patrocinam projetos, por meio de financiamento direto ou de permuta.

Permuta é uma forma de apoio em que a empresa não fornece dinheiro, mas sim produtos ou serviços em troca de visibilidade para a sua marca no projeto. Uma tecelagem, por exemplo, pode oferecer tecidos para o figurino de uma peça e, como contrapartida, ter seu nome no material de divulgação. Ou uma gráfica, que oferece a impressão de convites em troca de ter sua marca exibida ao lado do palco em uma apresentação de música.

Financiamento direto é quando a empresa investe dinheiro no projeto e o realizador pode geri-lo conforme o planejado, comprando de terceiros os produtos e serviços necessários. O financiamento direto também se dá em troca de visibilidade para a marca e outras contrapartidas que podem ser acordadas entre as partes.

O patrocínio empresarial pode ser feito com recursos próprios (quando a empresa destina parte de seu orçamento ao apoio de projetos) ou incentivados (quando os recursos são provenientes de parte do imposto devido, o que é viabilizado pelas leis de incentivo). Para a destinação de recursos incentivados é necessário que o projeto tenha sido autorizado a captar recursos pelo Governo.

Fatores valorizados pelas empresas na escolha de projetos

Abaixo seguem algumas perguntas que podem ajudá-lo a preparar seu projeto para a apresentação a uma empresa, destacando pontos relevantes para os patrocinadores.

Como o meu projeto pode ajudar a construir uma reputação cidadã para a marca da empresa?

Uma série de fatores de mercado tem levado as empresas a buscar a associação de suas marcas a ações de interesse público.

O primeiro deles é a necessidade de encontrar formas de comunicação que chamem atenção em meio à enxurrada de informações que as pessoas recebem todos os dias pela TV, internet, rádio, meios impressos etc. O outro é a preocupação cada vez maior que as empresas têm para com o bem da sociedade.

O patrocínio a ações de interesse coletivo (como projetos culturais e sociais) que associem uma empresa a uma postura ética e participativa na sociedade é uma forma de comunicação que diferencia a marca e ajuda a construir uma reputação cidadã. Enfatize sempre essas características no seu projeto.

Por que o investimento em cultura será um canal diferenciado para o meu patrocinador?

Por mais que o investimento em cultura seja crescente e muitas empresas estejam começando a praticá-lo, a iniciativa ainda é surpreendente e vista como positiva pela população. Além disso, o investimento em cultura normalmente é associado a uma série de qualidades que nem sempre as empresas conseguem transmitir com a propaganda: responsabilidade social, excelência, emoção,
beleza etc.

Um projeto será sempre mais interessante para uma empresa se for inovador, pois aumenta o grau de diferenciação do patrocínio. Valorize os diferenciais e as características de inovação do seu projeto.

Por que o patrocínio ao meu projeto é um canal de comunicação mais efetivo para a empresa “falar” com seus públicos?

Quando uma empresa escolhe um projeto a ser patrocinado, está sempre atenta ao público que poderá ser atingido com essa ação, seja diretamente ou por meio das ações de comunicação. O que a empresa busca não é “falar” com todos os públicos possíveis, mas com segmentos específicos que a interessam. O importante é que haja uma aproximação real da marca com esse seguimento de público.

Dessa maneira, a empresa sempre analisará o projeto em relação ao potencial que ele oferece para gerar oportunidades de relacionamento e comunicação com públicos de interesse (funcionários, clientes, consumidores, comunidade do entorno etc.). Uma fábrica, por exemplo, pode querer falar com as pessoas que vivem nas suas proximidades. Nesse sentido, um projeto que atenda a essa comunidade por meio de atividades culturais passa a ser interessante para ela. Já uma outra empresa pode querer falar com pessoas que valorizam a ação cultural, mas que não são beneficiadas diretamente por ela - um grupo de artistas ou a imprensa, por exemplo. Nesse caso, utilizam-se as ações que comunicam o projeto para atingir essas pessoas.

Quando for apresentar seu projeto para uma empresa, destaque com quais públicos ela se relacionará diretamente e apresente quais serão as ações e peças de comunicação realizadas e para quais públicos serão dirigidas.

Na formatação do projeto para apresentar a uma empresa, procure ser objetivo e sintético. Ilustre a apresentação com imagens e insira a marca de seu potencial patrocinador.

Utilize um roteiro lógico, como aquele apresentado no capítulo anterior, procurando enfatizar os pontos de maior relevância para a tomada de decisão da empresa.
Fique atento:
  1. Ao comportamento das empresas com relação aos patrocínios. Muitas empresas já investem em cultura e algumas determinam um foco para esse investimento. Analise o foco e veja se seu projeto está alinhado a ele. Se não houver alinhamento, procure outras empresas. O ajuste entre os objetivos do projeto e os objetivos da empresa é fundamental.
  2. Às matérias que saem na mídia sobre a empresa. Quanto mais informações for possível reunir, mais chances você tem de avaliar se seu projeto está adequado ou não a essa empresa.
  3. Aos processos adotados para a seleção de projetos pela empresa:
    • Seleção pública: a empresa seleciona projetos por meio de edital. Nele, as inscrições são realizadas pelos próprios proponentes. Os editais normalmente são divulgados na mídia. Os patrocinadores não costumam atender aos proponentes, a fim de garantir que todos os candidatos tenham as mesmas chances.
    • Seleção dirigida: os projetos são identificados pelo patrocinador por meio de prospecção, de acordo com critérios préestabelecidos. Nesse caso, o importante é ter um bom projeto e torná-lo conhecido.
    • Escolha direta: a empresa recebe vários projetos e seleciona aqueles que atendam aos critérios definidos por ela. Pesquise quais são as portas de entrada e envie seu projeto à empresa. Procure marcar uma reunião pois a presença do proponente facilita a empatia e possibilita que as dúvidas do patrocinador sejam esclarecidas.
  4. Ao período do ano em que você apresentará o projeto. As empresas possuem períodos específicos para preparar o orçamento do ano seguinte. Uma proposta de patrocínio pode ser descartada por chegar uma semana atrasada.

    Em geral, o melhor período de abordagem às empresas é no segundo semestre do ano, por volta do mês de setembro, quando estão sendo definidos os investimentos do ano seguinte.
Contrapartidas

Quando levar um projeto a uma empresa, é fundamental apresentar um plano de contrapartidas. Contrapartida é aquilo que o projeto oferece à empresa em troca do patrocínio. As contrapartidas vão desde a exposição da marca em materiais de comunicação até uma cota de ingressos para as apresentações, ou um espaço exclusivo para venda de produtos em um evento.

O grande objetivo de um plano de contrapartidas é apresentar ao patrocinador a visibilidade e as oportunidades de comunicação e relacionamento que o projeto pode oferecer a ele. Para isso, o ideal é identificar e avaliar todas as ações e peças de comunicação em que o nome do patrocinador poderá aparecer, assim como as possibilidades que ele terá de se beneficiar a partir do projeto patrocinado, seja convidando clientes e funcionários para a participação, seja promovendo parte do evento dentro da empresa e assim por diante. A marca sempre deve estar em destaque para que o patrocinador se sinta atraído pela contrapartida.

Um conjunto de contrapartidas deve estar sempre associado a uma cota de patrocínio.

Plano de cotas

Uma das perguntas que você pode ouvir na apresentação de seu projeto a uma empresa é quais são as cotas de patrocínio previstas e quais os valores e contrapartidas previstos em cada uma delas.

O que é uma cota de patrocínio?

Quando um projeto pretende ter mais de um patrocinador, é preciso regulamentar a participação que cada um deles terá no projeto. Isso deve ser diretamente proporcional ao valor do patrocínio: quanto maiores os recursos disponibilizados, maiores devem ser as contrapartidas. Marcas que investem mais devem ter benefícios maiores.

A delimitação e a valoração de um conjunto de contrapartidas compõem o que se chama de cota de patrocínio.
Costuma ser uma grande preocupação das empresas que, logo na proposta
de patrocínio, fique claro qual o montante que devem investir e as alternativas possíveis para os benefícios.

As cotas devem ser adequadas ao porte da empresa e ao grau de interesse dela no patrocínio. Algumas delas, por exemplo, sempre exigem ser as patrocinadoras principais de um projeto. Antes de fazer uma abordagem, procure descobrir como a empresa se comporta em relação ao patrocínio. Não se deve mostrar todas as opções de cotas, mas sim a cota que seja a mais adequada àquela empresa.

Ter um bom plano de cotas também ajuda os realizadores. De início, permite que se planeje o número de patrocinadores necessários para a execução do projeto. Garante também que o projeto não dependa de um único patrocinador: caso algum desista, existem outros patrocinadores e, eventualmente, você poderá até revender a cota abandonada.

Para montar seu plano, faça contas e simulações até chegar à melhor definição.

Perguntas que podem orientar a elaboração de um plano de cotas:

  • Será que uma única marca pode investir todo o montante necessário ao projeto ou é necessário mais de um patrocinador?
  • Quantos patrocinadores são necessários?
  • Quanto cada patrocinador precisa investir?
  • Dentre os possíveis patrocinadores, algum tem maior poder de investimento? Quanto ele poderia investir?
  • Para cada cota criada, quais as contrapartidas que podem ser oferecidas?
  • Como diferenciar na comunicação do projeto as diferentes marcas patrocinadoras e as diferentes cotas?
Formulários de inscrição

Muitas empresas, principalmente aquelas que realizam seleção pública, exigem um formato padrão para apresentação de projetos. Isso se dá por meio de um formulário. Nesses casos, você não terá a chance de defender seu projeto presencialmente. Quando isso acontecer, redobre a atenção com a redação e com a adequação do projeto ao foco da empresa. Leia o formulário antes de preencher. Certifique-se de que você compreendeu exatamente o que cada campo solicita e, em caso de dúvidas, não hesite em contatar o serviço de suporte da empresa. Só depois comece a preenchê-lo de forma técnica, sucinta e objetiva. Não seja repetitivo, prolixo ou enaltecedor das ações do patrocinador.

Incentivos fiscais: legislações federal, estaduais e municipais

Como vimos, uma das formas de financiamento público à cultura são as leis de incentivo. Porém, trata-se de uma forma peculiar, pois quem escolhe o projeto a ser patrocinado é a empresa ou a pessoa que destinará os recursos.

O projeto passa por dois tipos de avaliação:
  • Pelo órgão público: Ministério da Cultura ou secretarias que autorizam que o projeto capte recursos.
  • Pela fonte patrocinadora: empresa ou pessoa física que destinará ao projeto parte de seu imposto devido.
Já apresentamos os processos relacionados às fontes de financiamento. Falta, agora observar como se dá o processo de aprovação nos órgãos públicos.

Existem leis de incentivo fiscal em municípios, estados e na federação. Você deve procurar se informar sobre todas elas a fim de compreender quais podem beneficiar o seu projeto e os procedimentos requeridos para que isso aconteça.

As leis municipais se referem à isenção de impostos arrecadados pelas prefeituras, como o ISS e o IPTU, por exemplo. Normalmente, são voltadas a projetos que atuam em âmbito municipal e que trazem algum benefício à cultura local.


As leis estaduais normalmente atuam sobre o ICMS. Ações que valorizam a cultura da região ou que projetam o estado para outras regiões do País, por exemplo, são diretrizes adotadas em alguns estados.

As leis federais, mais utilizadas, destinam-se a projetos de relevância nacional, que atendam às principais demandas culturais da população brasileira como um todo.
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